De Santa Fé do Sul, interior do estado de São Paulo encostado com Mato Grosso do Sul, Reno Ale veio a primeira vez para São Paulo, com 4 anos de idade. Aos 13, voltou para o interior de São Paulo, retornando à capital aos 17 anos. Como milhares de Brasileiros, retornou à cidade para fazer a vida, ingressou no curso de economia da FMU e, no curso, entrou no movimento estudantil. Em 1992 entrou na CET e a partir de então, nasceu o Reno Ale, que começou a trabalhar pelos interesses dos trabalhadores. Confira nessa entrevista o que pensa e faz o presidente do SINDVIÁRIOS.
“O SINDVIÁRIOS tinha apenas uma sala, o que limitava o atendimento e a atividade de trabalho do próprio sindicato. Mudamos para a nova sede, melhoramos o trabalho sindical e, além de melhorar o atendimento à trabalhadora e ao trabalhador, ampliamos o serviço. Temos um espaço que funciona durante o dia, à noite e aos finais de semana, aberto à nossa categoria para discussões, debates, eventos etc.
É assim que pautamos o nosso trabalho, com a categoria dentro do sindicato. Tudo o que acontece em nossa direção ou no sindicato, buscamos com as trabalhadoras e os trabalhadores sua opinião e sugestão para nortear o nosso trabalho.
Foi assim, por exemplo, o nosso posicionamento no caso recente com a lei sobre o porte de armas. Mais de 70% dos nossos agentes não querem andar com arma de fogo.
Assim como a categoria, o SINDVIÁRIOS acredita que o posse de arma de fogo atrairá mais violência aos nossos agentes. A essência do nosso trabalho é orientar e auxiliar os motoristas e os pedestres.”
Reno Ale
Quando você entrou na CET e como surgiu Reno Ale no mundo sindical?
Entrei em março de 1992, e esse interesse pela representação dos trabalhadores culminou com a minha ida ao CRE, o Conselho de Representante dos Empregados.
Fui eleito dentro de uma chapa e 4 meses depois assumi a presidência do Conselho. Na sequência, fiz mais um mandato como presidente do CRE e fui chamado para entrar na chapa do sindicato. Na época, o presidente era o Osmar Torres e, de lá para cá, foram idas e vindas da direção do sindicato, mesmo por que nunca quis perder o contato com a categoria.
Nos últimos anos, assumi a presidência do SINDVIÁRIOS e continuo com a mesma disposição para trabalhar e criar consciência de classe entre os trabalhadores da CET.
Por mais que as pessoas estratifiquem em classes baixa, média e alta, meu ponto de vista é que só existem duas classes, o explorado e explorador. Aqui, no caso, o governo é o patrão e acaba explorando a mão de obra.
O sindicato ganhou um prêmio QUALITY. O que é esse prêmio e o que representa ao Sindviários?
Temos muito orgulho desse prêmio. A Quality é uma instituição livre que avalia, classifica e julga vários segmentos na área da indústria, comércio e serviços.
O prêmio avalia a qualidade dos serviços prestados, de que forma esses serviços são feitos aos usuários e sócios sindicalizados, a estrutura da instituição e de que forma negociamos os nossos acordos coletivos.
Foi feito um apanhado disso e, no estado de São Paulo, apenas três sindicatos conseguiram, ao longo da história do prêmio QUALITY, serem premiados.
Vale lembrar que dos três, dois são gigantes, um é o sindicato dos Metalúrgicos e outro, dos Petroleiros. E a gente figura aí, no meio desses gigantes.
Para nós, isso é motivo de muito orgulho, porque conseguimos mostrar, a quem estava avaliando, classificando o serviço sindical, que realmente temos uma prestação de excelência.
O prêmio faz uma avaliação sobre os acordos coletivos ou sobre a prestação de serviços aos associados?
Ele avalia o todo. É avaliado o tempo de resposta, o serviço que é prestado, de que forma é prestado e de que forma o sindicato conseguiu, ao longo do tempo, avançar em seus acordos coletivos. Até a prestação jurídica foi avaliada. Eles avaliam o conjunto de ações do sindicato e conforme somos pontuados, recebemos o primeiro lugar.
Além do prêmio, qual é o balanço de ações do SINDVIÁRIOS que você faz para os últimos anos?
O SINDVIÁRIOS tem um saldo muito positivo em relação aos ganhos para a categoria.
Avançamos em muitas cláusulas sociais e em benefícios.
Na CET São Paulo, por exemplo, nosso vale alimentação é maior do que foi apurado pelo DIEESE. Quando cheguei na presidência era de R$178,00, hoje está em R$544,00 e não existe índice inflacionário, nesse período, que meça essa evolução. O programa de participação dos resultados era um pouco mais de R$2.000,00 e hoje já ultrapassamos os R$5.000,00.
Em Santos e Campinas, conseguimos implantar o Programa de Participação de Resultados. Em Ribeirão Preto e outras empresas, estamos lutando. Em São Paulo e Campinas, conseguimos um 13° no vale alimentação.
Durante esse período, os salários não perderam para a inflação. Houve, no mínimo, a reposição da inflação.
Fizemos, nos últimos anos, grandes paralisações por conta da administração não querer negociar e, aí, forçamos a negociação com a categoria parada em São Paulo, Campinas e Santos.
Quando a categoria para e geralmente leva o dissídio para o tribunal, geralmente as categorias perdem diversos direitos sociais. Como foi aqui?
Não perdemos nada. Sempre agimos com inteligência e buscamos a conciliação dentro do núcleo de negociações do tribunal da 2ª Região. Inclusive, nos últimos três anos, na CET SP, tivemos acordos fechados dentro do tribunal.
Além da inflação, sempre conquistamos mais algum ganho dentro do tribunal porque conseguimos provar o faturamento que as empresas têm, de que forma são investidos esses faturamentos e que existia gordura financeira e poderia ser revertida aos trabalhadores, como foi.
Então, quando buscamos o tribunal, temos que estar municiados de todas as informações, temos que entender sobre o que estamos falando ou então acabamos sendo engolidos pelo outro lado. O outro lado contrata especialistas, pessoas com notório saber. Então, a gente também se prepara para fazer essa discussão e vem realizando isso muito bem. Tanto é que a nossa direção não perdeu nenhum benefício nos últimos anos, pelo contrário.
Então a sua principal marca, frente ao SINDVIÁRIOS, é o investimento para o trabalhador?
Começa pelo espaço da sede em São Paulo. Antes tínhamos apenas uma sala, que limitava o atendimento e a atividade de trabalho do próprio sindicato. Por se tratar de um condomínio comercial, tínhamos até horário determinado para fechar.
Então, mudamos para a nova sede, justamente para melhorar o espaço de atendimento aos trabalhadores, para poder ter um horário flexível de atendimento.
Durante os finais de semana, por exemplo, realizamos reuniões com setores da categoria, principalmente quando vamos ingressar com ações.
Investimos também na qualidade dos nossos profissionais. Reformulamos há pouco o jurídico do SINDVIÁRIOS, hoje temos um especialista em direito previdenciário, um em direito cível e família e um em direito do trabalho.
Temos tentado manter uma estrutura para um atendimento de excelência aos trabalhadores e sócios do SINDVIÁRIOS para que, quando as pessoas vierem buscar alguma informação, um atendimento, saiam satisfeitas por terem sido bem atendidas.
A trabalhadora e o trabalhador não sairão do sindicato iludidos. Quando eles decidem entrar com uma ação, estão totalmente conscientes do que querem e têm que fazer. Isso é importante, o sindicato não pode faltar com informação e não pode iludir a categoria.
A reforma trabalhista entrou em vigor. O que o SINDVIÁRIOS vai fazer para que o trabalhador não sofra punições?
Nossa direção vem participando de seminários para ter acúmulo de conhecimento sobre a reforma. Os advogados e sindicalistas que procuramos nesse período nos mostraram o quanto essa nefasta reforma do Temer é prejudicial para toda a classe trabalhadora.
Ela (a reforma) traz a possibilidade de pagar a atividade laboral por hora trabalhada, o que significa que se a pessoa trabalhar menos horas num mês, poderá ter um rendimento menor do que no mês anterior, criando o salário variável. Isso é terrível para qualquer família. Você depende daquele salário para sobreviver e esse salário flutua ao longo do tempo, de acordo com o humor do patrão.
Outra questão é o fracionamento das férias em três períodos a cargo e desejo do empregador. Não será o trabalhador que irá escolher os três períodos.
Quando demitido, o trabalhador que for retirar o Fundo de Garantia, poderá ter a multa de apenas 20%, não mais os 40%.
A carga horária trabalhada por dia também poderá ser modificada de acordo com a necessidade do empregador.
Existem atividades insalubres que não têm mais a necessidade de ter a mulher gestante realocada. Então, você pode ter um acréscimo de pessoas que vão nascer com problemas congênitos por conta da gestante trabalhar nesses locais.
Enfim, tivemos mais de 100 itens modificados e todos eles prejudicam os trabalhadores.
Nossa principal batalha será nos Acordos Coletivos. Somente através desses dispositivos impediremos que a reforma trabalhista avance em nossa categoria.
Agora, a responsabilidade de construção do texto é muito maior. Precisamos avaliar as reivindicações colocadas e fazer a luta pela manutenção do que já conquistamos.
Nosso acordo coletivo é um bom instrumento e a reforma trabalhista o atinge em cheio. Temos cláusulas sociais que protegem a mulher gestante e o trabalhador, temos uma série de adicionais conquistados, que com certeza vão tentar atacá-los. A manutenção dessas cláusulas somente se dará com a nossa experiência e a força da nossa categoria.
Como anda a Periculosidade para os Agentes de Trânsito?
É uma contradição esse momento que vivemos, o que só mostra a força da nossa direção. Enquanto o Temer aprova uma Reforma Trabalhista que retira direitos, o SINDVIÁRIOS está dentro do Congresso batalhando por um novo adicional à nossa categoria.
Essa discussão teve início em 2008, em Brasília, com outros agentes de trânsito e em outra realidade. A grande maioria dos agentes de trânsito do Brasil são estatutários, funcionários 100% públicos e nós, do estado de São Paulo, somos contratados pelo regime CLT.
Por conta da nossa atividade nas ruas, da violência que cresceu muito durante os governos tucanos e também do isolamento dos trabalhadores, acreditamos que nós, agentes de trânsito, fazemos jus ao adicional de periculosidade.
Conversamos com vários segmentos, alguns deputados nos deram apoio e apresentamos um texto base para a criação do Projeto de Lei que reformasse a atual legislação para que pudéssemos receber o adicional.
Tivemos ajuda também de outras representações, como a Diretoria de Representação em São Paulo e a CIPAS de Campinas, Santos e São Paulo. Juntamos as atas das assembleias dessas CIPAS e levamos ao Congresso, para mostrar as mais diversas ocorrências que os agentes têm durante a sua jornada de trabalho.
Com tudo isso junto, o projeto de lei foi votado na Câmara dos Deputados e seguiu para o Senado. Nossa luta agora é com o senador Romero Jucá, relator do PL, para que ele encaminhe e aprove no senado e mande à sanção presidencial.
Com a aprovação do PL, nossa atividade será mais valorizada. Com o ganho de adicional de periculosidade, teríamos um acréscimo de 30% nos salários.
E, para nós, do SINDVIÁRIOS, a questão da atividade de trânsito serve para todos que estão trabalhando em campo.
Tanto os agentes de trânsito, como os demais trabalhadores operacionais, seja da sinalização, da comunicação e da educação, pois todos eles estão de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro – CTB.
Temos, então, diversos trabalhadores desenvolvendo atividades no trânsito e, na sua essência, são agentes de trânsito.
Recentemente, tivemos um projeto de lei que tratava sobre o Agente de Trânsito ter porte de arma durante a sua atividade. O que o SINDVIÁRIOS pensa sobre isso
Primeiro, realizamos uma pesquisa na categoria. 72% dos trabalhadores não querem andar com arma de fogo, mas a grande maioria gostaria de estar com algum tipo de equipamento que o protegesse, que o ajudasse em sua proteção.
Não somos contrários a quem quer andar armado, temos vários agentes pelo Brasil que são oriundos das Guardas Municipais e foram deslocados para trabalhar em atividade de trânsito, são pessoas que têm preparo para andar com arma de fogo.
Aqui, no estado de São Paulo, acreditamos que isso provocaria muito mais violência para o nosso agente.
O nosso agente realiza uma atividade muito ampla, o trabalhador, aqui, tem a responsabilidade de retirar interferência da via, auxiliar no cruzamento, na travessia de pedestres, observar a sinalização para ver se precisa de manutenção. A atividade do nosso agente de trânsito é muito diferente da que é praticada em outras localidades do país.
O que o SINDVIÁRIOS faz para mudar a imagem de que os Agentes de Trânsito só servem para multar?
Não falei sobre as questões das autuações porque hoje, por conta dos meios eletrônicos, os agentes de trânsito realizam 10% do total de autuações.
O nosso agente está mais preocupado com a fluidez e a segurança de quem está transitando nas avenidas e nas ruas do que qualquer outra coisa.
Se você passar por um cruzamento onde está o nosso agente puxando trânsito, você não vê ele sacar o talão ou smartphone para fazer uma autuação. Ele orienta o condutor, sua grande preocupação é a segurança, dele e de quem está passando pelo local.
Essa visão de multador, de caneta nervosa, é um estigma do passado. Nos últimos anos temos tentado dar maior publicidade às atividades dos Agentes de Trânsito. Nas eleições, trouxemos os candidatos a prefeitura de São Paulo para debater isso com a gente e com toda categoria, ou seja, colocamos o Agente de Trânsito, e não apenas o trânsito, na ordem do dia.
Pouco se fala, por exemplo, do socorro que é prestado a um cidadão que está com o seu carro parado na via quando chega um agente de trânsito e reboca seu carro para um lugar mais seguro, a troca de pneus que os agentes realizam por conta de quem não sabe sequer segurar uma chave de roda, a questão do auxílio na travessia da faixa de pedestres sem semaforização ou quando o semáforo está quebrado.
Entendemos que a mídia faz um grande sensacionalismo para vender notícia, mas o que nós fazemos mesmo (de autuação) é 10% do volume.
Agora, a prefeitura, a companhia etc., tem que mostrar o que nós do SINDVIÁRIOS mostramos, que os nossos agentes de trânsito estão na cidade para servir a população.